DONA FULÔ E OUTRAS JOIAS NEGRAS
EXPOSIÇÃO REALIZADA PELO CCBB SALVADOR PROPÕE UM MERGULHO NA FORÇA E NA INTELIGÊNCIA DE MULHERES NEGRAS QUE DESENVOLVERAM A “ECONOMIA DA LIBERDADE” EM PLENO BRASIL COLONIAL
Uma rara coleção de joias brasileiras – conhecidas como Joias de Crioula – motivou a realização da exposição Dona Fulô e Outras Joias Negras, promovida pelo CCBB e que será exibida no Museu de Arte Contemporânea da Bahia a partir de 7 de novembro, data em que também será lançado “Florindas”, livro que complementa a exposição. A mostra, que teve origem no encantamento e na posterior identificação de uma fotografia onde uma mulher negra aparecia plena de joias e ricamente vestida, revela a prática implementada pelas “escravas de ganho” e mulheres libertas, que por vários caminhos evocavam sua história ancestral africana. Com altivez, orgulho e fé.
A foto era de Dona Fulô; o encantamento e a busca pela identidade da personagem, do colecionador baiano Itamar Musse. Após adquirir uma importante coleção de Joias de Crioula, recebeu de presente de Emanoel Araújo – artista, curador e museólogo, considerado um dos maiores expoentes da arte afro-brasileira – a foto de uma mulher negra com muitas joias, onde reconheceu imediatamente a pulseira que a mulher usava dentro de sua coleção. Resolveu, então, pesquisar a identidade da personagem e também saber mais sobre outras mulheres que possuíram preciosidades tão originais. – “Porque essas joias simbolizavam a manutenção de sua cultura, a preservação da sua autoestima e a sua resistência a condição de mercadoria”.
Essa é a história que chega ao século XXI, contada nesta exposição e no livro Florindas que narra a trajetória dessa descoberta – que vai muito além da apresentação das joias raras. Dividida em três núcleos, a exposição Dona Fulô e Outras Joias Negras preenche os espaços expositivos do MAC com as histórias dessas mulheres que compraram sua liberdade com o trabalho nas ruas – e traz à tona fatos mantidos em silêncio por tantos anos, apresentando nomes como o de Florinda Anna do Nascimento e tantas outras mulheres pretas empreendedoras no Brasil.
A mostra refere-se ao valor simbólico da construção cultural que vem com os negros escravizados e se transforma na convivência entre diferentes matrizes no novo continente. Refere-se às mulheres que escreveram e escrevem esta história de Florinda, Quitéria, Rita, Tia Ciata, Mãe Menininha ou Mãe Senhora. Faz referência às joias objeto da coleção e a outras joias: a herança da cultura afrodiaspórica nas obras de artistas negros contemporâneos, além de documentos e imagens do universo que propiciou o surgimento das Joias de Crioula, produzidas na clandestinidade por ourives da Bahia – não registrados “no Senado da Câmara”, muitos deles ”solteiros ou pardos forros” –, sob demanda de mulheres negras alforriadas.