OLGA GOMEZ ALEGRIA DA CRIAÇÃO
El que sueña
puede más que el que no sueña.
PENSAMENTO MBYA GUARANÍ
Alegria de criação é um convite a conhecer a obra de Olga Gómes,artista visual e diretora do grupo A Roda de teatro de bonecos, que em 2024 completa 27 anos de fundação. Penetrando num universo de alegorias, maté-rias, tempos e afetos, o público poderá evocar as ideias vivas que fundamentam a extensa obra da artista.
As obras desta exposição foram produzidas em mais de 40 anos de criação artística. Ousemos recriar a casa-ateliê de Olga, que é também uma casa-labirinto: se os mistérios da vida e da morte, que conformam desde sempre o imaginário humano, estão presentes em seus trabalhos, também estão os muitos caminhos possíveis. Frente a angústia da incerteza, a artista nos lembra que é a partir dos encontros que se desprende a energia e a coragem para seguir criando novas formas de viver.
Antes de conhecer a artista, conheci seu trabalho: foi em meados dos anos 1990 que um cavalinho articulado de madeira cruzou o meu caminho. Ele emanava tanta força e energia vital! Se estabeleceu uma conexão intensa, e mais do que a beleza formal (para mim, enorme), sua obra também nos convoca porque há vibração emanando dela, o que me faz lembrar um antigo pensamento oriental que diz que o pincel, na mão do artista, é a extensão do seu coração. E se somos tão afetados é porque esse vitalismo também é aquilo que dota as metáforas e os símbolos utilizados de força, na medida em que estes se alinham com um conjunto de experiências compartilhadas pelo espectador.
Transformar "um pedacinho de pau", como costuma dizer Olga, em bonecos ou sombras que serão capazes de contar histórias e nos emocionar, dá conta da intenção de expressar a potência da vida presente na matéria. Para a artista o entendimento de que a disposição material já é a obra nos desloca de um antropocentrismo que trata de hierarquizar nosso lugar no mundo. matéria, humanos, animais, estamos todos constituídos da mesma substância, somos parte de uma mesma trama. Podemos pensar a diferença sem hierarquias.
O nome A RODA implica movimento: a vida é devir, não é estática, e a obra de Olga possibilita conexões, novos vínculos: o desejo circula. Todos somos afetados nesse trânsito, e sua obra atua para que qualquer vestígio de rigidez seja deslocado.
Pedimos ao espectador, sempre, que se dê o tempo: no que estamos oferecendo deve atuar outra lógica (ou a falta dela). A abertura que propomos pede escutar a matéria, enxergar os sons e sentir os movimentos que emanam dela, estando em movimento ou em repouso. Um contém o outro. Sabemos, a medida do tempo sempre é pessoal. Respeitável público: a beleza, o inconformismo, a alegria, o desejo de viver pedem atravessá-los.
Stella Carrozzo
ARTISTA VISUAL E CURADORA