entreATOS DO ACERVO. PRIMEIRAS OBRAS: pequenos recortes da coleção do museu.

O programa "entreATOS do Acervo" que surgiu como proposta para dinamizar o acervo do MAM Bahia, tem seu primeiro capítulo no MAB - Museu de Arte da Bahia.

Recortes pequenos e temáticas específicas revelam novas perspectivas das coleções museológicas estaduais. Uma expansão programática que está relacionada com a implantação do Comitê Gestor de Museus do IPAC, novo modelo de funcionamento em rede dos museus públicos vinculados.

Maria Helena - Diretora do Museu

A exposição 'entreATOS do Acervo MAB: primeiras obras" exibe as peças mais antigas disponíveis da coleção do MAB, de acordo com o número de registro de entrada dessas peças no livro de tombo do museu. As cinco primeiras da lista desapareceram ao longo dos anos, incluindo dois sabres e um revólver da velha República. Apresentamos a peça n° 0.06, um óleo sobre tela de Francisco Terêncio Vieira de Campos, de 1911, que, entretanto, não é a mais antiga da coleção.

Além dessa pintura, exibimos destaques das coleções de numismática e de postais antigos, um jarro de (falsa) opalina, uma moringa de barro, um cartaz político, um desenho, uma escultura de gesso e uma cadeira de Pai ou Mãe de Santo que, provavelmente, foi apreendida durante aquele período. Um conjunto que representa parte das coleções iniciais que se fundiram para a criação do Museu do Estado (atual MAB). Pecas diversas que foram incorporadas entre 1918 e 1930, antes do primeiro livro de tombo do acervo do museu, e de uma política de incorporação que seguia um critério museológico mais rígido.

A partir dos anos 1930 iniciou-se uma mudança gradativa, refletida no primeiro livro de tombo e no primeiro livro de assinaturas do museu, ambos de 1931, com a implementação de uma política de incorporação de obras ao acervo, seja por aquisições ou doações, que seguia uma narrativa histórica. Foi durante esse período que os museus começaram a se qualificar como locais de prestígio, difusão e valorização no meio artístico e social. Desde então surgiram procedimentos mais rigorosos com relação a construção dos acervos museológicos, incluindo uma seleção mais criteriosa das peças, e o registro amplo dessas. Além das informações básicas - de autoria, técnica, ano de produção, material e tamanho - os museus passaram a registrar a procedência, o estado de conservação, as movimentações e as participações em exposições, de cada uma das obras de suas coleções.

Apresentamos ainda uma série das primeiras peças do MAB que fazem parte do conjunto iniciado em 1931, cujos critérios de seleção e catalogação começaram a ser controlados pelo próprio museu, na maioria dos casos. Foram selecionadas obras registradas no ano de 1931, porém, aqui se privilegiou os destaques de cada período e a diversidade de tipologias. Objetos de decoração em cerâmica, uma escrivaninha, uma litogravura, um quadro de cunho religioso, fotografias históricas do desfile de comemoração do centenário da Independência da Bahia, objetos antigos e documentos históricos pincelados de muitos outros que ainda se encontram ocultos.

A mostra "entreATOS do Acervo MAB: primeiras obras" não pretende exibir um conjunto estilístico específico, uma escola de pintura, um recorte dialógico, a coleção que pertenceu a uma família, a trajetória de um artista ou até mesmo o conceito de belo. A seleção busca revelar como o acervo do primeiro museu baiano foi montado por meio do agrupamento de coleções distintas, que não possuíam relação necessária entre elas e, tão pouco, um olhar criterioso. Nesse período se agregou tudo aquilo que se considerava importante, ou até mesmo belo, mas também o que chancelava o poder estabelecido. Um formato que se tornou quase regra dos acervos dos grandes museus, incluindo os de arte, que muitas vezes estavam (ou ainda estão) diretamente conectados com as demandas do mercado e das narrativas dominantes.

Se faz necessário uma revisão geral nesse processo. Retirar camadas e recontar histórias estabelecidas sob novas perspectivas, sem pudores de exibir o que ficou ofuscado e afastado por narrativas intelectuais eurocêntricas, que dominaram o pensamento do século XX. Essa exposição é um primeiro passo rumo a uma urgente atualização do espaço-tempo do MAB. Pois, como diria nosso poeta Caetano Veloso, "aquilo que nesse momento se revelará aos povos, surpreenderá a todos não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido o óbvio".

Daniel Rangel

Curador Programa Entreatos

Espaço fechado à visitação presencial.