Coleção Rubem Valentim

O Templo de Oxalá é um grupo muito especial de vinte esculturas e dez relevos de Rubem Valentim (1922-1991), em que a cor branca é predominante. Existe aqui uma possível analogia entre o conjunto e uma festa para Oxalá, na qual as esculturas são divindades vestidas de branco em louvor ao orixá funfun (Funfun é a cor branca, em Iorubá. Se refere ainda à aqueles orixás que se vestem de branco, sobretudo conectados a Oxalá).

Maria Helena - Diretora do Museu

O TEMPLO DE OXALÁ

A maior parte dessas obras foi apresentada em 1977 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e posteriormente na 14ª Bienal Internacional de São Paulo, em uma sala especialmente dedicada a Valentim, também intitulada Templo de Oxalá. De acordo com o crítico Frederico de Moraes, esta teria sido "a primeira eclosão da espiritualidade dos afro-brasileiros [...] realizada no mais alto nível das conquistas plásticas da arte contemporânea internacional".

Nascido em Salvador, Valentim começou sua trajetória no final dos anos 1940 como pintor autodidata, e participou dos movimentos de correntes modernas da arte baiana, ao lado de Mario Cravo Júnior, Carlos Bastos, Sante Scaldaferri, entre outros. Desde o começo dos anos 1950, passou a se dedicar a uma pesquisa relacionada às questões litúrgicas das religiões, sobretudo de matrizes africanas, como os símbolos. sagrados e ferramentas dos orixás, que se tornaram visualidades obrigatórias em sua produção. Uma simbologia impregnada pelo sincretismo religioso, resultante do encontro entre catolicismo e candomblé, que, em suas palavras, constitui "um fenômeno típico da Bahia". Disso se origina seu "barroquismo formal" e geométrico, que desde o começo transitou entre a figuração e a abstração.

Valentim ficou conhecido como um artista construtivo do sagrado, cuja produção está "afastada de hermetismos e da vulgaridade representacional", conforme destacou Paulo Herkenhoff. Para o curador carioca, "a teogonia de Valentim se realiza em forma de uma escritura e não na representação antropomórfica dos orixás, mas na compreensão da estrutura simbólica." O rigor formal e a inventividade de suas composições plásticas mereceram grande atenção do meio das artes, que reconheceu a expressão de uma linguagem própria, ao mesmo tempo brasileira e universal, construída por meio da apropriação de signos que pertenciam ao universo do próprio artista e de um meticuloso processo compositivo dos trabalhos.

O importante crítico de arte italiano Giulio Carlo Argan, que ressaltou a geometria e a perfeição dos triângulos, quadrados, círculos e das linhas horizontais e verticais das obras de Valentim, destacou ainda que era "necessário expor, antes que eles (os signos simbólicos-sagrados) apareçam subitamente imunizados, privados, das suas próprias virtudes originárias, evocativas ou provocatórias: o artista os elabora até que a obscuridade ameaçadora do fetiche se esclareça na límpida forma de mito". Valentim não buscou uma representação literal dos orixás ou de insígnias religiosas, mas insistiu na invenção de um modo ressignificado de apresentar essas simbologias relacionado com uma identidade autoral que chamou de "riscadura brasileira".

O Templo de Oxalá é um dos momentos ápices dessa invenção linguística, pois reúne a potência plástica formal com a força espiritual e energética que emanam dos trabalhos. De acordo com artista e curador Emanoel Araújo, o Templo de Oxalá foi o "momento de inspiração [...] mais profundo da grande e generosa obra do genial artista, que soube unir o sopro universal e as profundas raízes ancestrais de sua criação". Após ser restaurado e circular por São Paulo e Brasília na mostra llê Funfun, ao longo de 2022, o conjunto retorna ao MAM Bahia, para a Sala Rubem Valentim, inteiramente reformada para receber as obras. Organizada originalmente pelo artista Bené Fonteles, um dos principais responsáveis pela doação dessas obras ao museu, a Sala Rubem Valentim passa a contar com uma linha do tempo sobre a vida e obra do artista e vitrines com fac-símiles e documentos históricos cedidos pelo Instituto Rubem Valentim, resultantes da mostra itinerante. A nova montagem resgata ainda conceitos históricos da apresentação original das obras na Bienal de 1977, em celebração ao centenário de nascimento do artista.

O Templo de Oxalá é um conjunto referencial fundamental para a história da arte brasileira, sobretudo para o momento atual de grande visibilidade e necessária inserção de artistas negros no circuito de arte contemporânea. Conforme concluiu Herkenhoff "com Valentim, a cultura negra no Brasil chega integralmente com seu sentido espiritual original à arte. Chega sem intermediações estilísticas e negociações políticas que renunciassem à identidade". Sem dúvidas, ele conseguiu inventar uma linguagem artística própria, impregnada "por uma cultura genuinamente brasileira", conforme almejava. O artista se definia como "um homem desesperado que procura a Divindade, o Ser dos Seres". Que ele esteja na paz de Oxalá! Epa babá!

Espaço fechado à visitação presencial.

Acesse o tour virtual

Obras selecionadas

Templo de Oxalá
Templo de Oxalá

Templo de Oxalá

O Templo de Oxalá é um grupo muito especial de vinte esculturas e dez relevos de Rubem Valentim (1922-1991), em que a cor branca é predominante.

Templo de Oxalá
Templo de Oxalá

Templo de Oxalá

O Templo de Oxalá é um dos momentos ápices dessa invenção linguística, pois reúne a potência plástica formal com a força espiritual e energética que emanam dos trabalhos. De acordo com artista e curador Emanoel Araújo, o Templo de Oxalá foi o "momento de inspiração [...] mais profundo da grande e generosa obra do genial artista, que soube unir o sopro universal e as profundas raízes ancestrais de sua criação".

Relevo emblema nº 10
Relevo emblema nº 10

Relevo emblema nº 10

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1977
Acervo MAM-BA

Relevo emblema nº 10
Relevo emblema nº 10

Relevo emblema nº 10

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1977
Acervo MAM-BA

Relevo emblema nº 01
Relevo emblema nº 01

Relevo emblema nº 01

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1977
Acervo MAM-BA

Relevo emblema nº 04
Relevo emblema nº 04

Relevo emblema nº 04

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1977
Acervo MAM-BA

Relevo emblema nº 01 e nº 10
Relevo emblema nº 01 e nº 10

Relevo emblema nº 01 e nº 10

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1977
Acervo MAM-BA

Relevo Simbólico
Relevo Simbólico

Relevo Simbólico

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1985
Acervo MAM-BA

Relevo emblema nº 78
Relevo emblema nº 78

Relevo emblema nº 78

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1978
Acervo MAM-BA

Relevo emblema nº 11
Relevo emblema nº 11

Relevo emblema nº 11

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1977
Acervo MAM-BA

Relevo emblema nº 09
Relevo emblema nº 09

Relevo emblema nº 09

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1977
Acervo MAM-BA

Relevo emblema nº 78
Relevo emblema nº 78

Relevo emblema nº 78

Relevo. Madeira e tinta acrílica.
1978
Acervo MAM-BA