Agô

A flecha certeira de Ayrson Heráclito

Adeptos do Candomblé utilizam com frequência o pedido de "agô", palavra iorubá, que significa "licença", em português. Pedem "agô" quando adentram um espaço, quando estão de passagem, quando querem falar, sobretudo se dirigindo a um "mais velho". Em suma, "agô" é uma deferência para com aqueles ou aquelas que ali estão e vieram antes.

Maria Helena - Diretora do Museu

A exposição "Agô - Ayrson Heráclito" foi escolhida como mostra inaugural do Museu de Arte Contemporânea da Bahia - MAC_Bahia, também como uma deferência. Inicialmente reconhece a importância de Ayrson Heráclito, cuja rigorosa trajetória o colocou entre os principais artistas contemporâneos brasileiros da atualidade. Ao mesmo tempo que evidencia sua produção, ressalta o que essa representa em termos estéticos simbólicos, históricos e afetivos - colocando esse referencial como farol de uma contemporaneidade daqui - de Salvador, da Bahia.

Oxóssi, também chamado Odé ou ainda Oxotocanxoxô, é conhecido por possuir uma mira certeira. Nos ensina uma de suas lendas, que ele é o caçador e rei das matas, um provedor nato, que combina beleza e elegância com inteligência e coragem. "O guerreiro que precisa apenas de uma única flecha, pois nunca erra seu alvo". Ayrson Heráclito é um típico filho de Oxóssi, cujo trabalho é como uma flecha certeira que vem rasgando a historicidade estabelecida do meio artístico brasileiro com um manancial de referências fundamental para as revisões e novos engendros necessários no presente.

Uma produção poética visual potente que ressignifica a posição a qual o legado afro-brasileiro foi submetido no panteão histórico e coloca a arte como elemento detonador de processos energéticos. Obras que são criações multidisciplinares cujo processo de construção se dá de forma imagética, intelectual e espiritual. Seus trabalhos encontram esteio em preparações ritualísticas de oferendas do Candomblé. Uma contínua e criteriosa renovação das tradições, nas quais ele se apropria de estratégias artísticas e filosóficas, provocando experiências políticas, estéticas, sociais e, claro, afetivas.

A exposição "Agô - Ayrson Herácito" é ainda uma oferenda para o novo museu. Reúne um conjunto de trabalhos de tempos distintos e suportes variados que aglutinam a forca universal da arte contemporânea baiana e brasileira da atualidade. Um padê ritualístico e simbólico, banhado por litros de dendê, água salgada, água doce e muitas folhas. Porque sem isso não há nada. Um clamor de benção e licença como uma deferência para com aqueles e aquelas que estão aqui agora graças àqueles e àquelas que vieram antes. Pedimos "agô" para abrirem os caminhos do MAC _Bahia, com muito axé! Agô.

Daniel Rangel

curador

Espaço fechado à visitação presencial.

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Obras selecionadas

Regresso à pintura baiana
Regresso à pintura baiana

Regresso à pintura baiana

Maquete da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Maquete de isopor policromado, madeira, látex e azeite de dendê. 200 x 360 x 240 cm

2002 a 2021.

Cortesia da Simões de Assis Galeria de Arte

Bipolaridade
Bipolaridade

Bipolaridade

 

Barrueco 3
Barrueco 3

Barrueco 3

Série Juntó
Série Juntó

Série Juntó

A série Juntó lida com insígnias e ferramentas relacionadas ao panteão do Candomblé, dialogando com a ideia da conjunção de entidades que preside cada cabeça humana. Se na astrologia as energias dos corpos celestes desenham diferentes eixos de influência com sua posição na hora do nascimento, no Candomblé cada pessoa é regida por pelo menos dois orixás, um principal e um complementar. O conjunto inclui aquarelas, desenhos e esculturas.

Bori
Bori

Bori

O trabalho é compreendido como um ritual poeticamente inspirado na prática de ofertar comidas para a cabeça em cerimônias religiosas de matriz afro-brasileira. Bori: da fusão bó, que em ioruba significa oferenda, com ori, que quer dizer cabeça, literalmente traduzido significa “Oferenda à Cabeça”. A ação consiste em oferecer comidas sacrificais a cabeça de doze performance, sendo estes representações vocativas e iconográficas dos doze principais orixás do candomblé. Dar comida para a cabeça é nutrir a nossa alma. Alimentar a cabeça com comidas para os deuses é evocar proteção. Todos os elementos que constituem a oferenda à cabeça exprimem desejos comuns a todas as pessoas: paz, tranqüilidade, saúde, prosperidade, riqueza, boa sorte, amor, longevidade. Cada pessoa, antes de nascer escolhe o seu ori, o seu princípio individual, a sua cabeça. Ele revela que cada ser humano é único, tendo escolhido suas próprias potencialidades. Odu é o caminho pelo qual se chega à plena realização de orí, portanto não se pode cobiçar as conquistas do outro. Cada um, como ensina Orunmilá – Ifá deve ser grande em seu próprio caminho, pois, embora se escolha o ori antes de nascer na Terra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da vida

Orixá Omolú ou Obaluaê, Orixá Oxóssi e Orixá Ogum
Orixá Omolú ou Obaluaê, Orixá Oxóssi e Orixá Ogum

Orixá Omolú ou Obaluaê, Orixá Oxóssi e Orixá Ogum