Castro Alves e seus amores

Castro Alves foi o poeta de todos os sentimentos: o patriotismo, a compaixão, o amor romântico, a liberdade, a justiça. Não se contentou em cantar apenas em um único tom. Foi o poeta tanto da tristeza quanto do prazer, da mágoa e da alegria. Compreendeu a vida como um complexo de sentimentos contraditórios, de lagrimas e de sorrisos.

Maria Helena - Diretora do Museu

Não cedeu aos desacertos, foi em frente, deixando para traz dissabores, as desavenças, os desamores. Encontrou sempre uma forma de ser feliz e não fraquejou mesmo quando a doença já o desenganara. Produziu, planejou seus livros, clamou misericórdia pelas famintas vitimas das guerras e pelos cativos do Brasil. Apesar de quase total dedicação de sua vida as questões sociais do seu tempo, Castro Alves dedicou, também, sua lira ao amor. Porem, essa lírica amorosa contraria e muito as convenções do romantismo literário, segundo as quais o poeta deveria cultivar um amor único, na maioria das vezes imaginário e exaltar a sua pureza.

O poeta amou varias mulheres, entre elas: Leonídia Fraga, Eugênia Câmara, Brasília Vieira, Ester Amazalack, Agnése Murri e a todas elas dedicou seu canto. Mas foi para a atriz portuguesa Eugênia Câmara, mais amada por ele, que dedicou seus mais famosos poemas, dentre os quais: "Meu Segredo", "Vôo do Gênio", "A Uma Atriz" e "O Gondoleiro do Amor", Com o subtítulo de "Dama Negra", este ultimo representa uma síntese perfeita de comedida descrição da volúpia amorosa, do elogio singelo da beleza física e da musicalidade da poesia romântica.

No acervo, destacam-se as fotografias dos amores do poeta e o livro "Espumas Flutuantes", o único livro que foi publicado ainda em vida por Castro Alves.

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Obras selecionadas

O romântico revolucionário
O romântico revolucionário

O romântico revolucionário

Castro Alves incorporou a vertente revolucionária do movimento romântico, ao contrário da maioria dos poetas brasileiros da época, que se acomodava à sombra do poder.

Ele não alimentava ambições pessoais, como seria normal na sua idade, mas projetava seu olhar para o futuro dos povos oprimidos e lutava contra as forças conservadoras do presente, sonhando com uma pátria mais justa para seu povo, onde não faltassem o alimento e a instrução.

O olhar de Castro Alves desloca-se dos salões luxuosos, iluminados e festivos da sociedade, no seio da qual nascera, e busca o ambiente sombrio e úmido das senzalas:

''Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas ... cuidado ...
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.

Não venhas tu que achas triste
Às vezes a própria festa.
Tu, grande, que nunca ouviste
Senão gemidos da orquestra
Por que despertar tu'alma,
Em sedas adormecida,
Esta excrescência da vida
Que ocultas com tanto esmero?
E o coração — tredo lodo,
Fezes d'ânfora doirada
Negra serpe, que enraivada,
Morde a cauda, morde o dorso
E sangra às vezes piedade,
E sangra às vezes remorso?...

Não venham esses que negam
A esmola ao leproso, ao pobre.
A luva branca do nobre
Oh! senhores, não mancheis...
Os pés lá pisam em lama,
Porém as frontes são puras
Mas vós nas faces impuras
Tendes lodo, e pus nos pés.''

''Tragedia No Lar''

A presença da natureza
A presença da natureza

A presença da natureza

A presença da natureza na poesia de Castro Alves é mais um dos aspectos a contrariar a tendência geral do Romantismo que era de exaltar a superioridade da terra brasileira sobre a europeia e a de estabelecer correspondências entre os sentimentos do escritor e a paisagem natural.

Castro Alves não está preocupado com a visão que o europeu possa ter do Brasil, mas com aquela que o próprio brasileiro possa ter de si mesmo. Por isso procura questionar o merecimento que esse homem tem de possuir a terra "onde tudo é mais bonito e abundante". Para tanto, contrasta a beleza da natureza com a ruindade do ser humano.

Em vez de cantar simplesmente as grandezas de sua terra, quando a descreve é para contrastá-la com a escravidão do povo.

No poema "Tragédia no Lar", o canto soluçante de uma escrava também mostra contraste entre sua condição e a natureza.

Em muitas poesias de Castro Alves está presente a paisagem da região onde nasceu e passou os últimos meses de sua Vida.

É a natureza tropical, o crepúsculo sertanejo, emoldurando a vida difícil dos escravos e a simplicidade da mulher do interior.