O Pouso de Adelaide é um caramanchão construído nos jardins do Parque Histórico Castro Alves para homenagear a Irmã predileta do Poeta, Adelaide de Castro Alves Guimarães. Nasceu a 22 de março de 1854, em Salvador, Bahia, era amante das artes, especialmente da música, do desenho e da poesia, tendo publicado um livro com seus poemas. Era a irmã preferida de Castro Alves, que a chamava carinhosamente de Sinhá, e para quem escreveu o poema '' A minha irmã Adelaide ''. Ao longo de sua vida, preocupou-se em cultuar a memória do irmão, cuidando de sua obra.
Casou-se com o jornalista Augusto Álvares Guimarães, em 1873, amigo íntimo do poeta. Morreu em 21 de setembro de 1940, no Rio de Janeiro, com quase 90 anos.
A MINHA IRMÃ ADELAIDE
QUANDO SOZINHO e triste... em horas de amargura,
Tu sentes de meu seio a tempestade escura
As asas encurvar, no fúnebre oceano!...
Quando a esponja de fel embebe-me a lembrança!...
... Levantas-te de leve, ó límpida criança!...
E deixas tuas mãos correrem no piano...
— Tu’alma — terna e meiga inclina-se inquieta
No abismo funeral das mágoas do poeta,
E sonda aquele pego... e rasga aquele arcano!
Após... Nesse arquejar da vida, que me pesa,
Ouço... longe, uma voz que no infinito reza! ...
Na terra um soluçar choroso... É teu piano!
Quando no desviver das horas de atonia,
Das noites tropicais na morna calmaria,
Da mocidade o canto arrojo ao vento — insano...
E, perto de morrer, o amor anseio ainda!...
Que mulher me soletra essa harmonia infinda?
... É tua mão qu’empresta um’alma ao teu piano...
E enquanto a flor rebenta à face da lagoa
E a lua vagabunda o céu percorre à toa,
Mirando na corrente o seio leviano;...
Inda a terra m’inspira um sonho de ternura!...
... O gênio da desgraça, o gênio da loucura,
Tu sabes, qual Davi, curar no teu piano.
Criança! Que não vês como é sublime e santo
Fazer irmãos no amor e cúmplices no pranto
Mozart, o homem do Norte, e Verdi, o Italiano!
Despertar ao relento o idílio de Bellini!
Fazer dançar Sevilha, ao toque de Rossini...
E o bolero estalar... nas teclas do piano!
Ai! toca! No meu ser acorda ainda um estro
À voz de Gottschalck — o esplêndido maestro —
Aos lampejos de luz — do Moço Paulistano —
Ai!... toca!... Enche de sons o derradeiro dia
Daquele que só tem... por sonho — uma harmonia!
Por única riqueza... a ti... e ao teu piano!
Salvador, 29 de maio de 1871