Prataria
A prata refletia a ascensão e a decadência das elites. Ela ocupava na sociedade baiana colonial e imperial, um lugar destacado, não só pela ostentação e luxo, como também pela captação de patrimônio. Portanto, não se conservavam peças de prata simplesmente pela razão de sua beleza ou valor artístico. Estes objetos constituíam um investimento, uma reserva a ser fundida e transformada em dinheiro, em caso de necessidade. Era, a Prata da Casa, o capital da família.
A prata vinda das colônias espanholas transformava-se em metal de entesouramento. Assim, os objetos em prata tornavam-se investimento. Assumindo diferentes formas, funções, decorações, as peças em prata juntavam o útil ao agradável: riqueza e arte. Salvador e Rio de Janeiro eram os principais núcleos brasileiros de produção.
Acompanhando a evolução estilística portuguesa, tem-se o Barroco de D.João V, o Rococó de D.José I, o Neoclássico de D. Maria I e a partir da Independência do Brasil (1822) e durante todo o século XIX, revivem-se antigos estilos. São muito comuns as salvas, bandejas, tinteiros, entre outros, decoradas com gradinhas e pés em formato de garras.
Os eventos sociais forneciam todas as ocasiões possíveis de se exibir e rivalizar em aparato: nascimentos, batizados, aniversários, casamentos, saraus, recepções, coroações. Em cada atividade diária, uma requintada peça de prata. Bacias e gomis para a higiene; tinteiros para a escrita; serviços de jantar, de chá, café e chocolate (bebidas da moda nos séculos XVIII e XIX) para as refeições; castiçais e candelabros para a iluminação; etc.
Nas mesas e ambientes, a prata de outrora reluzia, revestindo de brilho, beleza, imponência e fausto os antigos solares.
A prata não pode ser utilizada em seu estado puro. Para se tornar maleável e poder ser trabalhada pelo Lourives, ela deve ser ligada a outro metal, sendo o cobre o mais apropriado. O objeto de prata pode ser batido, fundido e moldado, para ganhar forma. Uma das mais significativas características da prata é a excelente recepção à decoração. Esta pode ser repuxada, cinzelada, gravada, filigranada, granulada, esmaltada, dourada e receber inscrustações de outros materiais como pérolas, pedras preciosas, etc.
A legislação portuguesa do final do século XVII, exigia que as peças em prata apresentassem marcas de autoria (ourives) e de inspeção (contraste ou ensaiador), para atestar a qualidade da liga, autenticidade e garantir o pagamento dos impostos.
Grande parte das peças da coleção Museu Carlos Costa Pinto são marcadas por punções, que identificam a sua procedência e os ourives que as fizeram. Estas marcas eram colocadas depois que as peças eram examinadas pelo contraste ou ensaiador, o fiscal encarregado da verificação. A marca auxilia na identificação do autor, época aproximada em que a peça foi feita, assim como o lugar da sua fabricação. As primeiras marcas brasileiras são provenientes da Bahia, a partir do século XVII, seguidas pelas das demais Províncias. Existem peças sem marcas em grande número no Brasil: as encomendadas pela Igreja e ordens religiosas, e as peças que burlavam o fisco.