entreATOS do acervo - COLEÇÃO AFRICANA CLAUDIO MASELLA

As máscaras aqui presentes, chamadas de forma genérica por "arte africana", foram interpretadas de forma distorcida pelas sociedades ocidentais. A elas foram atribuídas leituras pejorativas, o título de arte primitiva ou mesmo a "crença" e difusão sobre seus possíveis poderes maléficos.

À ideia de primitivo, contrasta com as complexas tecnologias e tratamento das formas em madeira, que foram desenvolvidas ao longo de milênios e ao contrário de serem ligadas a forças destrutivas, as máscaras africanas são usadas para promover o bem da comunidade, uma vez que participam de celebrações religiosas que exaltam e clamam pela saúde, fartura, bem-estar e harmonia social.

O início da mudança dessa mentalidade ocorreu a partir do início do século XX, dentro do campo artístico, quando pintores e escultores renomados, de vanguarda, valorizaram a arte africana e asiática como fontes de inspiração para a renovação da arte produzida na Europa, que ditava modas, modos e costumes.

Na nua e crua realidade o que houve foi a apropriação artística e intelectual dos artefatos e obras de arte africanas reinterpretadas por diversos artistas, que desenvolveram novos movimentos e escolas, mas pouco ou nenhum crédito deram àqueles que os inspiraram.

Por meio da arte é possível criar marcos temporais, perceber a pluralidade de culturas e trazê-las para novas discussões, narrativas e compartilhamentos de diferentes visões de mundo. A África, esse continente incansavelmente descrito como um todo homogêneo e estático, continua a atravessar o tempo e apontar para a sua grande diversidade cultural e suas transformações

Nesta mostra, que integra o projeto curatorial entreATOs, compartilhado por todos os museus do Estado da Bahia, a Coleção de Arte Africana Claudio Masella foi revisitada, com esse recorte, para trazer além da sua beleza a possibilidade de refletir sobre a importância de difundir esta arte poderosa, ainda sem o nome e assinatura dos seus artistas, mas já no caminho da compreensão desses entendimentos e reconhecimentos.

SOBRE A COLEÇÃO

Claudio Masella nasceu em Roma (Itália), em 2 de agosto de 1935. Morou por muito tempo na África desenvolvendo atividades no setor de fabricação de móveis. Era um amante da arte africana, tendo colecionado por mais de três décadas objetos de formas, origens e significados diversos.

Após ter se casado com a brasileira Conceição Ramos Masella conheceu Salvador (BA) e se apaixonou pelo povo baiano, manifestando interesse em deixar sua coleção acessível a população da cidade, por ser a capital do país com maior proporção de afrodescendentes. Seu objetivo era que esse acervo pudesse contribuir para a difusão da beleza e do conhecimento sobre a história da arte africana.

A coleção, que totaliza 1.039 objetos, foi doada ao Governo da Bahia em 2004. Após chegar em Salvador, grande parte dos objetos recebeu ações de conservação e restauro.

Também foram feitos o inventário museológico e a pesquisa de identificação das peças, tendo em vista que não havia documentação primária e que o colecionador faleceu em 2007 sem deixar registrado seu depoimento sobre a constituição do acervo.