Ancestralidade Africana e Afro-Brasileira

Em diversas sociedades africanas vigora o princípio da ancianidade, em que os mais velhos devem ser respeitados pela sua sabedoria e experiência Depois da morte, um ancião se torna um ancestral e frequentemente é homenageado através de rituais e celebrações em que as máscaras têm papel principal.

Maria Helena - Diretora do Museu

No momento da dança das máscaras a pessoa que a usa deixa de ser ela mesma para se tornar um veículo de comunicação com as entidades do mundo espiritual (divindades ou ancestrais). Nesta sala estão expostas máscaras e objetos (de diversas sociedades) ligados aos cultos de ancestralidade, destacando duas produções dos iorubás que influenciaram a cultura baiana.

As máscaras gueledés são usadas pelos membros de uma instituição tradicional dos iorubás para cultuar de forma coletiva o poder ancestral feminino. Elas são compostas por uma parte em madeira esculpida na forma de uma cabeça humana ou de animal. A essa parte de madeira, que fica na cabeça como um capacete, geralmente fixa-se um prolongamento feito com fibras vegetais, tecidos ou roupas.

Elas são usadas para aplacar a ira das geniosas lyamis, que são entidades muito poderosas ligadas à fartura nos campos e à fertilidade das mulheres. Nessa cerimônia, ao som de atabaques e cânticos, os dançarinos paramentados, adornados com joias e outros acessórios como esculturas de seios e ventre protuberantes de madeira, e executando movimentos femininos com o quadril, saem em procissão pelas ruas da cidade. Assim, eles abstem-se simbolicamente de sua masculinidade para divertir, mimar e prestar homenagem às lyamis e garantir que elas não fiquem encolerizadas. Desse modo, mantêm-se a saúde, a fertilidade e a prosperidade da comunidade. Na Bahia, ainda restam algumas máscaras gueledés, como as do Instituto Geográfico e Histórico, que documentam a vinda dessa religiosidade para os antigos terreiros de Salvador. A tradição oral relata que Maria Júlia Figueiredo, do terreiro da Casa Branca, rainha do título de lyalode-Erelú que, na África, é conferido à dirigente da Associação Gueledé.

As máscaras que representam ancestrais masculinos ilustres (Eguns) são usadas pelos iorubás em uma instituição tradicional chamada Egungun. Essas máscaras, quando se apresentam à comunidade, vestem roupas de tecido bastante adornado e emitem sons guturais que são traduzidos aos espectadores da cerimônia por um intérprete. Quando as roupas estão em movimento é como se houvesse a reencarnação momentânea de um parente distante que vem à Terra para socorrer, resolver problemas, dar conselhos e punir os vivos. Os Eguns mais antigos, chamados de Agba Egun, recebem na África outros elementos materiais, como uma escultura em madeira por cima das roupas, semelhante as que são exibidas nesta seção. O culto aos Eguns é um rico legado dos povos iorubás à cultura afro-baiana. Na ilha de Itaparica (BA), desenvolveram-se antigos terreiros dedicados ao culto aos Eguns fundados por sacerdotes africanos.

Espaço fechado à visitação presencial.

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Obras selecionadas

Batakari (túnica de guerra).  Algodão, couro e osso. Povos Akan, Gana
Batakari (túnica de guerra). Algodão, couro e osso. Povos Akan, Gana

Batakari (túnica de guerra). Algodão, couro e osso. Povos Akan, Gana

Túnica de algodão contendo diversos amuletos e crânios de animais. Peças como esta eram usadas por guerreiros para se tornarem invencíveis nas batalhas. Também era usada por adivinhos, curandeiros e chefes nos rituais de iniciação e funerais de pessoas importantes da comunidade.

Máscaras Policromadas . Igbo, Nigéria
Máscaras Policromadas . Igbo, Nigéria

Máscaras Policromadas . Igbo, Nigéria

Máscara Policromada (Máscara da Direita)
Madeira e tecido. Igbo, Nigéria

Esse tipo de objeto é conhecido entre os igbôs como aghogho, a máscara que torna presente o espírito de uma donzela que é uma entidade feminina primordial do panteão desses povos. Esse tipo de máscara é usado em culto aos antepassados pelos integrantes da associação Mmwo. A cor branca está associada aos mortos nessa cultura.

Máscara (Máscara da esquerda)
Madeira policromada, couro e metal. Igbo, Nigéria

Os igbos, diferentemente dos seus vizinhos iorubás, não possuem o poder centralizado na figura de um rei. Os diversos povoados são liderados por grupos de anciões que realizam celebrações em honra dos antepassados. Essa máscara representa um ancestral masculino.

Máscara de Egun.  Madeira policromada. Iorubá, Benim/Nigéria
Máscara de Egun. Madeira policromada. Iorubá, Benim/Nigéria

Máscara de Egun. Madeira policromada. Iorubá, Benim/Nigéria

As máscaras de Egun representam antepassados masculinos ilustres. São confeccionadas com tecidos ricamente adornados. Algumas máscaras mais importantes também apresentam na parte superior uma escultura em madeira, como a peça aqui apresentada. Nessas esculturas aparecem símbolos ligados à ancestralidade, como a barba comprida e o camaleão que, segundo os mitos iorubás, foi o primeiro ser vivo a andar sobre a Terra.

Máscaras Gueledés. Madeira policromada. Iorubá, Nigéria/Benim
Máscaras Gueledés. Madeira policromada. Iorubá, Nigéria/Benim

Máscaras Gueledés. Madeira policromada. Iorubá, Nigéria/Benim

Tipos mais elaborados das máscaras gueledés, apresentando uma superestrutura esculpida em um único bloco de madeira. Nessas máscaras aparecem animais mitológicos e símbolos proverbiais, como osu, o sinal da lua crescente que representa o ciclo menstrual, e Eye, o temível pássaro capaz de trazer bênçãos ou tragédias para a comunidade.