Em Uma Jornada...

Udo Knoff foi um pesquisador incansável da arte da Azulejaria e sua paixão por essa arte o levou a realizar uma investigação criteriosa sobre a técnica e a história dos azulejos presentes nas residências da antiga São Salvador.

Maria Helena - Diretora do Museu

Seu trabalho incansável deu origem a um catálogo de 350 azulejos, que, segundo o artista, não estava acabado e tinha o propósito de instigar outros trabalhos nesse perfil. O empenho cabal deu origem à afirmação que leva o título da exposição: "O que não foi achado deve estar bem escondido".

Embora não fosse o objetivo de sua pesquisa o levantamento de trabalhos de arte contemporânea, Udo foi contemporâneo de artistas que experimentaram o azulejo como suporte para suas pinturas, realizadas como intervenções em estruturas arquitetônicas públicas e privadas, mas que já traziam em suas obras os traços vanguardistas da arte contemporânea, tais como Max Urban, Jenner Augusto e Bel Borba, trazidos para esta exposição.

Muito depois de Udo nos deixar, artistas independentes têm se aproximado da azulejaria para expressar sua arte com técnicas inovadoras e temáticas atuais, demonstrando que mesmo uma arte secular como a azulejaria pode ser reelaborada e utilizada para novas leituras criativas. Nesse contexto, para apresentar algo que não poderia ser encontrado, pois estava ainda por acontecer num futuro distante para Udo (e no nosso presente), são exibidas nesta casa as obras de Axoloti Kerope e Wagner Lacerda.

Os (des)caminhos da arte da azulejaria contemporânea em Salvador apresentam uma diversidade de processos e linguagens que podem ser encontrados em formatos e espaços múltiplos, oportunizando ao indivíduo que contempla e a ela se conecta as escolhas para seus próprios (des)caminhos.

Aqui passeamos por um trecho dessa trilha.

Espaço fechado à visitação presencial.

Obras selecionadas

Bel Borba
Bel Borba

Bel Borba

Alberto José Costa Borba, mais conhecido por Bel Borba, é pintor, escultor e muralista atuante na cidade onde nasceu, Salvador. Suas obras estão espalhadas ao redor da cidade e exploram técnicas e estilos diversos, dando assim corpo, movimento e vibração para a criatividade do artista.

Na arte da azulejaria, Bel Borba tem realizado até o presente, murais permanentes em diferentes pontos da cidade, a exemplo dos mosaicos os Pássaros (2001), localizado na Contenção do Largo do Retiro, e Morcegos (2001), localizado na Av. Anita Garibaldi, assim como um de seus principais trabalhos, instalado no muro exterior que contorna o Hospital Santa Izabel, no bairro de Nazaré no ano de 2019.

Os murais tiveram por objetivo celebrar os 470 anos da Santa Casa da Bahia e retratam a trajetória do hospital. A escolha por contar essa história através dos murais do lado exterior foi o modo de trazer maior visibilidade para a missão da instituição ao longo dos séculos.

A obra completa é composta por doze murais: O início; Vida; Caridade, Esperança e Fé; Pupileira e Avançar; A Pupileira; Tecnologia; Campo Santo; Hospital Santa Izabel; Museu da Misericórdia; Humanização; CEIS. Centro de educação infantil para crianças; Ensino e Pesquisa.

Foi com muita honra que aceitei o convite de criar os painéis que hoje contornam o Hospital Santa Izabel, pertencente à Santa Casa da Bahia. Conheci bem de perto o trabalho desenvolvido pela instituição e tive o cuidado de expressar, através da arte, a nobreza das atividades que envolvem o nascimento, a vida, a morte, a proteção, o amor, a saúde, a cura, a atenção e a assistência. (Bel Borba)

Max Urban
Max Urban

Max Urban

Pouco se sabe sobre a biografia do/a artista que ficou conhecido/a com o pseudônimo de Max Urban. O que conhecemos diz respeito apenas ao fato de que ele/a escolheu fazer da cidade de Salvador o berço de suas obras em azulejaria na década de 1960. O/A autor/a tem obras espalhadas na cidade de Salvador e também nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Conhecemos do/da artista o que podemos observar de suas obras, seu estilo e suas escolhas; algumas delas apontam para a predominância de cores frias e semimonocromáticas, a exemplo da obra instalada no Condomínio Ed. Rio Alva, localizado no bairro da Barra. Essa é uma das obras permanentes em locais residenciais e privados.

A obra, ora retratada durante esta exposição, encontra-se em local público do lado externo e superior do Elevador Lacerda. O Elevador Lacerda possui enorme valor para os soteropolitanos por conectar a Praça Cairu, na Cidade Baixa, e a Praça Tomé de Souza, na Cidade Alta. O transporte também se converteu em um dos principais atrativos turísticos da cidade, por sua localização e vista para o mar, privilegiando um dos mais belos pores do sol na cidade.

O mural todo em azulejos foi assentado na década de 1960. Na obra, observamos a presença de três importantes produtos de exportação e de consumo interno do Brasil: o cacau, a cana-de- açúcar e o café. A obra apresenta o primeiro trabalhador, que está em seu ofício de colhedor de cacau, enquanto o segundo corta a cana e o terceiro retira o café.

Ainda que não se conheça maiores informações sobre a biografia de Max Urban, sabemos que ele/ela escolheu a capital baiana para expor seu trabalho em azulejaria no momento em que o país se encontrava em acelerado desenvolvimento econômico, urbano e artístico.

Jenner Augusto
Jenner Augusto

Jenner Augusto

Nascido em Aracaju Sergipe, em 1924, Jenner foi pintor, desenhista, escultor, gravador e cartazista. Ele se desenvolveu como artista em Sergipe, ainda seguindo a estética clássica da arte antes de se mudar para Salvador, onde sua carreira decolou e permaneceu até sua morte em 2003.

Sendo muito influenciado pelo artista Cândido Portinari, o padrão acadêmico de suas obras do começo ao final dos anos 40 foi substituído pela perspectiva modernista a partir da segunda metade do século XX, integrando a segunda geração modernista brasileira, imortalizando seu talento, além de em tantos suportes, também em seus azulejos.