A população indígena brasileira, antes da ocupação do território pelos portugueses, era estimada em 5 milhões de habitantes e dividida em diferentes grupos étnicos. A colonização e a expansão territorial para o interior do Brasil geraram conflitos e doenças que impactaram muito na população inicial que atualmente, não chega a um milhão. Embora muitos grupos tenham sido dizimados, outros foram aculturados e alguns conseguiram sobreviver. Estes, juntamente com os registros históricos de viajantes pelo Brasil colonial e imperial permitem compor um panorama da riqueza cultural desses povos.
Os instrumentos musicais tradicionais indígenas da coleção Emitia Biancardi formam um dos mais significativos conjuntos do país. Cada instrumento traz os segredos de sua confecção. Feitos originalmente com elementos das florestas, os sons evocam a comunhão com a natureza. Entre os índios brasileiros predominam os instrumentos de sopro, seguidos em menor quantidade de percussão e de corda.
A flauta Uruá é tocada pelos povos da região do Xingu, somente por homens, sendo-lhe atribuído o poder de afastar os maus espíritos antes do Kuarup. Mede cerca de dois metros e, geralmente, é feita de bambu, composta por dois tubos sem furos atados de tamanhos diferentes, soprados de forma alternada. Infelizmente, a espécie de bambu utilizada na confecção dessas flautas não mais existe na região. Por isso, outros materiais como o PVC foram usados.
Em 2003, visitando a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), dois caciques das aldeias Yawalapiti e Kuikuro do Parque Indígena do Xingu identificaram uma espécie similar do bambu de origem asiática, cujos feixes coletados foram transformados em flautas. Mudas foram enviadas e plantadas na aldeia Yawalapiti, onde a coleta da matéria-prima permite a continuidade de uma tradição. Diversas músicas tocadas pelos povos do Xingu foram aprendidas com os Bakairi, que migraram para outras regiões e perderam essa tradição. Esses sons são ecos dessa história, "os sons dos esquecidos".
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